Não sei quanto tempo faz que eu não passo uma madrugada assim escrevendo enquanto escuto música. Costumava fazer isso no auge de um confronto interno fortíssimo que desaguava em uma tristeza incompreendida. Eu queria liberdade. Muita coisa aconteceu de lá para cá.

O ano era dois mil e seis, e hoje olhando parece que foi em outra vida. O mais estranho é pensar que algo dentro de mim continua acreditando que é insistindo nisso de escrever o que sinto que vou conseguir realizar alguma coisa na minha vida, tudo aquilo o que eu sempre quis.

Mas a história da tristeza e da confusão ninguém se importa. Eu posso escrever dez textos, um livro inteiro falando sobre isso, posso detalhar cada lágrima que derramei antes de dormir querendo ser outra pessoa. Eu poderia abrir os teus olhos e os teus ouvidos para enfiar dentro deles cada letra dessa história, mas ninguém se importa.

E não que você seja mal ou individualista, a questão não é essa. A questão é que você tem as suas próprias dores para dar conta, e acredite quando eu digo que dar conta das próprias dores é o maior trabalho que você pode assumir na vida. Talvez o único pelo qual vale a pena se debruçar com vigor. Mas não importa, ninguém se importa.

E não importa porque o que importa em mim é diferente do que importa em você. Porque a minha dor se estende por lugares que talvez corram longe da sua. Então, por que eu insisto nisso de madrugada, música e texto? Por que eu insisto em um blog que ninguém lê, que eu mesmo abandonei durante anos? Por necessidade. Para calar o ego e entender a alma.

O cara que há mais de dez anos sentou na frente do computador pela primeira vez e aprendeu como criar um blog do zero, construiu um template e resolveu compartilhar suas angústias, sempre acreditou no poder da palavra, mesmo que não tivesse consciência disso naquela época. Se expressar era o que importava.

E a palavra escrita, seja feita de lápis, papel ou teclas, pixels, bytes, mas sempre de necessidade, era ela que dava o ritmo do que acontecia dentro do peito.

A palavra escrita honesta, essa que não procura se explicar para ninguém, mas que tenta entender a si mesma, palavra por palavra, para expressar e compreender aquilo que só se sente e que algumas vezes, por ingenuidade ou arrogância, acho que ninguém mais sente.

Essa que quando compartilhada cria conexão, influencia, e no mais profundo dos casos, altera destinos. Nela, sigo acreditando, primeiro para me entender, depois, para quem mais possa importar. Será que importa?

A questão é que a minha dor, por mais que ela corra por lugares distantes da sua, em algum momento elas se tocam e se tornam uma só, porque na vida nada nunca está sozinho por muito tempo, e no fim das contas o que vai importar é a força do sentimento por trás de tudo o que eu compartilhar, é o que vai fazer com que você se veja em mim. No fim, é só o que importa.

Por Walter Filho.
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